Na história do Rio Grande do Sul a figura feminina é um elemento singularíssimo; independente da etnia ou classe social que representa. Manifesta-se com uma presença forte e batalhadora, que não costuma baixar a cabeça e submeter-se a situações onde fique rebaixada ou inferiorizada.
A gaúcha acostumou-se com o sofrimento, mas sem jamais se dar vencida a ele. Muito pelo contrário, encontra nas dificuldades motivo de força e resistência. Considerada prescindível nos períodos de revolta, a mulher participa ativamente dos episódios históricos do Rio Grande do Sul.
Obrigada a sofrer calada durante mais de duzentos anos de combates e revoltas, estas viram partir para guerras seus pais, irmãos, maridos e filhos. Ficando com a obrigação de cuidar da casa, dos filhos pequenos e filhas moças, da criação e plantação. Não precisamos procurar muito para chegarmos a esta conclusão: se os homens válidos estavam envolvidos diretamente nos entreveros, a quem ficaria delegada a missão de manter de pé as estruturas familiares e , inclusive, econômicas do estado?
A mulher gaúcha levou em suas costas por uma infinidade de vezes toda a responsabilidade de manter o Rio Grande ativo enquanto seus homens emprestavam suas forças a causas políticas. Muitas vezes elas assumiam também o papel de soldado, pois ficando desprotegida a casa, a elas caberia a responsabilidade de proteger os bens e a integridade da família.
Não podemos esquecer, que a mulher sempre trabalhou nas estâncias, assegurando a economia do Rio Grande do Sul, enquanto seu pai, esposo e filho saiu para defender as fronteiras e os ideais rio-grandenses.
Dentre tantas grandes mulheres, que se destacaram no cenário Rio-grandense, em defesa das nossas fronteiras, destacamos a Marquesa de Alegrete: heroína anônima, nobre pampeana, que em 14 de janeiro de 1717, na Batalha de Catalan, ao lado do esposo Marques de Alegrete – Luiz Telles de Caminha e Menezes e do filho, ajudou a escrever, com sangue suor e lágrimas, a história das batalhas entre Portugal e Espanha, servindo como enfermeira, mãe e até soldado, na demarcação de fronteiras do nosso pago gaúcho. A história também registra a mulher farroupilha do decênio heróico, que foi a mulher que, de uma forma ou de outra, figurou na história oficial do decênio heróico. Dentre elas, citamos Anita Garibaldi (Ana Maria de Jesus). Mulher intensamente feminina, ativa, forte de ânimo, de decisões rápidas, uma exímia cavaleira, que despertou em Giuseppe Garibaldi um fortíssimo sentimento, mesmo nos poucos contatos, que tiveram em Santa Catarina, quando da invasão de Laguna pelas tropas farroupilhas, além de Maria Josefa da Fontoura Palmiro, que promovia reuniões políticas em sua casa, em Porto Alegre, em apoio a Bento Gonçalves e aos Farrapos, também defendia a libertação dos escravos e tantas outras.
A participação da mulher foi de fundamental importância no contexto da formação histórica, social e cultural do Rio Grande.
A Revolução Farroupilha colocou a mulher num encontro ingrato e arriscado com a vida, porém, por mais ameaçadoras, que se tenham apresentadas as circunstâncias, ela sempre soube manter-se firme: quanto mais a situação era adversa, mais a mulher soube se transformar na forja sagrada das convicções do herói farroupilha.
A mulher guerreira ficou conhecida por "vivandeira", a "china de soldado", foi a mulher, que acompanhou as tropas em seus deslocamentos e permaneceu nos campos de combate cuidando do soldado.
A mulher estancieira foi a mulher, que permaneceu na estância, administrando as lides campeiras e domésticas, tomando conta do lar, dos filhos, da estância e cuidando dos negócios do homem ausente, que rezava pelos vivos e chorava os mortos. Era, aos olhos de Deus e da sociedade patriarcal – a mãe, a esposa, a filha – permanecendo em casa, aguardando ansiosa o desfecho da guerra e o retorno do guerreiro.
Muitas foram as heroínas desconhecidas, que lograram entrar na história, que só agora recebem reconhecimento, como Caetana, esposa de Bento Gonçalves da Silva e Elautéria, mulher de Manuel Antunes da Porciúncula.
Foi neste dificílimo momento, que o valor da mulher farroupilha foi testado, fazendo com que seu coração vivenciasse as inúmeras novas circunstâncias, levando a sujeitar-se às necessidades, aos infortúnios, mas ela foi competente em sua função, incansável no desempenho do seu papel. Encantadora e generosa, companheira, não se deixou arrastar por convicções derrotistas, deixando na história um admirável perfil, abrindo perspectivas esplêndidas de esperança para seu companheiro, com admiráveis e imprescindíveis fatores decisivos e determinantes da inacreditável persistência dos farrapos.
A mulher farroupilha, com seu sentimento de compreensão e solidariedade, muito auxiliou o desenvolvimento da semente da República Rio-grandense, fazendo frutificar, em heroísmo, a alma da gente farroupilha. Ela soube avaliar e enfrentar o perigo, não para receá-lo e sim para combatê-lo. Esta foi a mais sublime e valorosa lição feminina, raramente descrita com a merecida justiça e homenagem dos pósteros.
A mulher sempre promoveu a mais iluminada unidade de fé, auxiliou a compor as mais importantes páginas da história gaúcha, em meio a grande destruição, acreditou e fez acreditar, que sempre se salva algo dignificante da vida.
Inúmeras foram as heroínas anônimas, que, cuidando dos filhos, dos interesses familiares e da economia do Rio Grande, deram ânimo, apoio e acreditaram nos anseios farroupilhas.
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